Curta!

Discos de Vinil Atualmente.....



Em uma era na qual milhares de músicas cabem no bolso do casaco, encher estantes e armários de discos pode não parecer muito lógico. Não é o que pensam os colecionadores de vinis, que tratam com carinho especial cada item da sua coleção. Curiosamente, o número de gente que lota suas prateleiras com músicas no formato analógico vem crescendo cada vez mais, e engloba tanto aqueles que viveram a era de ouro do disco quanto os que cresceram em meio à CDs e à tecnologia digital.


Prova disso é que os Long Plays, ou LPs, como são conhecidos os discos de vinil, vem sofrendo um crescente aumento nas suas vendas, anos depois de serem considerados obsoletos pela indústria fonográfica. Segundo a Associação de Gravadoras da América (Record Industry Association of América), as vendas de LPs aumentaram de 900 mil, em 2006, para cerca de 1,3 milhão, em 2007.

Seguindo essa onda, cada vez um número maior de bandas estão lançando suas músicas em vinil. Grupos como Radiohead, Metallica, Oasis e Coldplay apostaram no formato em seus últimos lançamentos. No Brasil, a cena não é diferente, e artistas como Maria Rita, Caetano Veloso e Los Hermanos também optaram pelo vinil em alguns de seus trabalhos. O País, entretanto, já não conta mais com uma fábrica de discos ativa, obrigando os cantores a contratarem indústrias estrangeiras para o processo de fabricação dos discos.

A crescente procura fez com que grandes gravadoras aumentassem sua oferta de vinis. Há três anos, a poderosa Warner reavivou o formato ao abrir a loja virtual de LPs Because Sound Matters (www.becausesoundmatters.com), que comercializa reedições e lançamentos.

Mas para os colecionadores, o grande local para se comprar e pesquisar sobre vinis são os sebos, ou lojas de discos usados. Rafael Fonseca da Silva, que trabalha há 16 anos em uma loja de discos, afirma que constantemente atende colecionadores. Na sua maioria, eles procuram álbuns de rock clássico, como Led Zepellin, Beatles, Jefferson Airplane e Bob Dylan, entre outras raridades dos anos 60 e 70, afirma Rafael.

Getúlio Costa, dono da Boca do Disco, uma das lojas de vinil mais tradicionais de Porto Alegre, concorda com seus clientes sobre a preferência pelo disco. "Em comparação com o LP, escutar um CD é como ouvir a música dentro de uma lata de azeite. Não tem graves, não tem peso, não tem nada", explica Costa.

O músico e produtor musical Beto Machado, conhecido como Bob Mac, afirma que a qualidade do vinil vai além do som. "O som do vinil na maioria das vezes é ruim, principalmente os nacionais mais antigos. Mas é estranho que esse som ruim às vezes é legal. Tem uma alma, um calor que a mídia digital ainda não tem. É diferente, pode ser até nostalgia", afirma.

"Na verdade a principal diferença sem dúvida é o processo de gravação. Os discos de vinil foram lançados em uma época onde as gravações eram analógicas. Gravava-se em fita, microfones valvulados e tudo mais, por isso o som dos instrumentos tem um timbre característico, os graves são mais macios, quentes, velados, e os agudos tem um brilho um pouco mais áspero, mas não estridente", completa o produtor.

Entre as raridades da coleção de Bob Mac, está uma edição do 'Álbum Branco', famoso trabalho dos Beatles. "Pertence à primeira tiragem brasileira do disco e ele tem um defeito, a música 'Revolution 1' está sensivelmente mais lenta, com sua rotação alterada. Foram feitas 2 mil cópias e dias depois, quando descobriram o erro, retiraram do mercado os exemplares que ainda não tinham sido vendidos", diz.

"É considerado um item raro por beatlemaníacos e a revista inglesa Record Collectors, especializada em vinil, o avaliou em pelo menos 600 libras. Quando eu o comprei em um sebo, no começo dos anos 80, paguei muito barato e só me liguei depois que tinha esse defeito", recorda o produtor.

A qualidade do som dos discos de vinil não é o único atrativo, entretanto, que faz centenas de pessoas optarem pelos chamados "bolachões".

O que despertou o interesse por vinis do colecionador Paulo Touron Martinez Júnior, 24 anos, foi o preço relativamente mais em conta do disco em relação ao CD no início dos anos 2000. "Essa vantagem do bom preço sumiu quando a experiência chegou. Quanto mais conhecimento musical um colecionador adquiri, mais gêneros ele conhece e mais raridades ele busca. E discos raros são bem mais caros do que qualquer CD".

"Durante muito tempo uma boa fatia do meu salário ia para sustentar meu vício nos discos. É um hobby caro hoje em dia, mas que vale cada centavo investido", completa o colecionador.

Mas se o vinil conquista a cada dia um número maior de adeptos, quem presenciou os anos de grande popularidade dos LPs também possui motivos para nutrir um certa paixão pelos discos. É o caso do carioca Jorge Cavalcante, 60 anos. "Fui criado com o vinil e me interessei mais por ele quando surgiram os CDs e decretaram o fim dos LPs, afirma Cavalcante, que possui cerca de 1,2 mil discos.

"Não há nenhuma vantagem prática no vinil, a meu ver, mas afetivamente é tudo de bom. É a sua vida revista através das músicas que pontuaram seus dias", explica o carioca.

Apesar do grande número de itens, o exemplar mais raro da coleção de Cavalcante custou um valor irrisório. "Minha raridade é Vinícius, Drummond e Bandeira declamando suas poesias. Me custou R$ 1, pois quem me vendeu não tinha a mínima noção do que tinha em mãos", afirma Cavalcante.

Já para o colecionador Luciano Correia, que já conta com cerca de 11 mil discos em suas prateleiras, a questão raridade tem outro sentido. "Tenho um disco do Raul Seixas, chamado 'Metrô Linha 743', que não é exatamente uma raridade. Porém esse exemplar pertencia a uma rádio e, por ter sido lançado na época da Ditadura, uma das faixas está marcada com fita crepe, uma forma de evitar que a música fosse tocada. Esse disco para mim é uma raridade. Um disco do Raul censurado e marcado pela Ditadura eu não dou, não vendo e não troco", explica Correia.

Para Correia, um dos principais motivos para se colecionar discos é colaborar para a valorização da cultura do nosso País. "Uma boa parte do nosso registro musical está deixando o País. Os compradores estrangeiros, por saberem valorizar mais a cultura e a arte, estão levando todo o nosso acervo para fora do Brasil, o que é muito triste. Colecionar discos de vinil também é uma forma de manter a nossa rica e impagável cultura musical dentro dos limites da nossa fronteira", afirma.

O amor à cultura dos discos fez com que Rafael Terpins, colecionador e sócio do estúdio de animação Terpins Greco, desenvolvesse com seus colegas a série 'Batalha - A Guerra do Vinil' (www.guerradovinil.com.br), que foi ao ar através do canal de TV a cabo Cartoon Network. Terpins explica que alguns personagens da série foram baseados nas pessoas que conheceu ao procurar discos em sebos.

"Caçar discos me proporcionou conhecer muita gente e entrar um pouco no universo dos donos de sebo. Os vendedores de vinil são uma fauna exuberante por si só. São gente viciada em música como você. E alguns até te aconselham a largar este vicio", afirma Terpins.

Para os fãs do LP, todas as desvantagens dos discos de vinil compensam a sua magia. "Acho que hoje em dia as desvantagens do vinil em relação aos formatos digitais são bem maiores. O preço, os impostos, a demora que às vezes tem para chegar e o peso para carregar em viagens. Mas mesmo assim eu continuo comprando. Confesso que tem horas que eu acho que sou louco em ainda estar gastando com discos, mas eu amo demais", confessa o DJ e colecionador Eduardo Morais.

"Eu já fiz amigo meu de fora do Brasil pegar até trem e ir atrás de gente que eu achei em fóruns gringos pra ir buscar um único disco e me mandar", completa Morais. "Para quem coleciona a busca é infinita. Por diversas vezes eu pensei que quando conseguisse tal disco eu ia sossegar. É tudo mentira, eu nunca estou satisfeito", conclui o DJ, exemplificando bem a paixão que a maioria dos colecionadores sente por esse tão estimado item, tido por muitos como "velharia".

Matéria de Elis Martine para o site terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários